Fundação Maitreya
 
Pela Paz

de Pedro Teixeira da Mota

em 06 Out 2014

  Invocando, irradiando e agradecendo a Paz, mais do que nunca nestes últimos tempos em que esteve tão ameaçada pela ganância e a irresponsabilidade de alguns, lembremos um dos seus adeptos, amante e mestre e que nasceu exactamente hoje 11 de Setembro, mas de 1895, perto de Chanai, Vinayak Bhave, mais conhecido por Vinoba Bhave, ou ainda Vinoba Ji. Sendo muito dotado para as línguas e dialectos (chegou a falar doze) e as matemáticas, abandonou um futuro promissor para aderir ao Mahatma Gandhi e aos seus ideais de “Ahimsa”, não-violência, “Swaraj”, auto-determinação e “Satyagraya”, a força da verdade, e que, uma vez manifestados num pequeno grupo, logo se expandiram galvanizadoramente por milhões de indianos contra o colonialismo inglês e certos defeitos dos próprios indianos.

Pela Paz, e em homenagem aos pacificadores, tal como Vinoba Ji...

Quando se juntou à vida comunitária no “ashram” (local de verdade e comunidade), executando todas as tarefas com tal perfeição, Gandhi confessará ao pastor inglês Andrews, que lhe perguntava quem era ele: «É uma das pérolas raras do ashram, um daqueles que vieram não para ser benzidos, mas para abençoar, não para receber, mas para dar».

Professor do Mahatma Gandhi de sânscrito e na interpretação e recitação dos textos sagrados, pois nascera brâmane, ou seja na casta religiosa, mas discípulo profundo nos votos e técnicas da não-violência, quando Gandhi morre, tomará o seu lugar como líder, guru ou iman. Como disse então o famoso cantor Toukdoji: «O Pai partiu, o Filho carregou o fardo sobre o seu ombro. Vinoba é agora para nós o que Bapou (Pai) era para nós. Gandhiji morto, eis agora o advento do herdeiro do seu imenso amor». Já agora, quanto a esta última característica do poder carismático de Gandhi, relembremos que não-violência é o mesmo que Amor…

Vinoba inicia então o Bhodan, a caminhada peregrinante, para o “Grandam”, o dom gratuito da terra, e recebe milhões de hectares para os mais desfavorecidos em grandes peregrinações por toda a Índia, justificando-se: «Não basta espalhar ideias e não convém impô-las, e é preciso ainda que venham ter connosco e que adiram às coisas. Se elas aderirem às coisas, impõem-se e espalham-se. Se tivesse atravessado as aldeias a rolar sobre nuvens de poeira, as minhas ideias não teriam raízes».Nos nossos dias, não se poderá ainda reinventar este Bhodan, este auscultar harmonioso das necessidades as pessoas e das terras, esta osmose profunda das ideias e ideais com os humanos e as suas necessidades, reivindicações e aspirações, e para resultados satisfatórios e luminosos?

No seu ashram em Wharda, no centro da Índia, homens de Estado, procuradores da verdade e peregrinos, entre os quais se destacou o siciliano francês Lanza del Vasto (mais conhecido por Shantidas, e que veio várias vezes a Portugal (estando hoje publicado a sua obra magna, “Peregrinação às Fontes”, nas ecológicas “Edições Sempre em Pé”) tentar dinamizar a desobediência cívica à violência e à ignorância, que infelizmente ainda hoje regem grande parte dos governos e políticas, encontraram sempre um caloroso e sábio acolhimento dialogante, como eu próprio o experimentei…

Num discurso, Vinoba Ji, em 1957, em Yelwal, Mysore, em plena campanha de recolha de terras para os mais desprotegidos, dirá: «É minha fé fundamental que há um espírito divino no coração do ser humano. Superficialmente pode haver faltas, mas não são da essência interna. Precisamos então de descobrir um caminho que entre no mais íntimo do coração para que toda a bondade seja revelada. E esse caminho pode ser encontrado; descobri-o em Telengana. Eu pedi terra, e um homem avançou e deu-me terras. Para mim, este minúsculo incidente foi um sinal de Deus; confirmou a minha fé em Deus. É contra o Dharma (ordem cósmica) e a razão pensar que a terra possa ser propriedade individual. E quando comecei a pedir terra num espírito de amor, as pessoas começaram a responder. Foi como se um vento fresco começasse a soprar, e as pessoas vieram, vindas de longe ou de perto, juntar-se à nossa peregrinação».

Assim se referia Vinoba às jornadas a pé (bhodan) que atravessaram a Índia a pedir e a receber terras (grandam) para os mais necessitados. Esta redistribuição, na sua plenitude, significa «que tudo o que se possui deve ser posto à disposição da comunidade como um todo». Assim se realizou na Índia, uma reforma agrária, não-violenta e eficaz, de milhões de hectares, um exemplo sempre actual, sobretudo agora que multinacionais transgénicas, como a Monsanto, ou governos bombistas ou insensíveis à Natureza e à compaixão, ainda tentam destruir as harmonias milenárias da Natureza e manter uma Humanidade, cada vez mais consciente e potencialmente unida, num estado de bastante sujeição, sofrimento e alienação…

Saudemos e acolhamos então hoje e sempre estes mestres da Ahimsa ou não-Violência no séc. XX, e que com Mahavira o Jina, Gautama o Budha, Pitágoras, Jesus (bem secundado hoje pelo Papa Francisco), Porfírio, Prisciliano, Rainha Santa Isabel, Erasmo, Vivés, Damião de Góis, Tolstoi, Jaime Magalhães de Lima, Albert Schweitzer e Martin Luther King são grandes inspiradores das nossas almas e comunidades nas consciencializações, movimentações e esforços pela Paz, o Amor, a Justiça e a Divindade na vida humana e na Terra.
   


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Impresso em 19/4/2024 às 11:05

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