Células gliais humanas disparam convulsões
As tempestades eléctricas do cérebro podem envolver concentração de cálcio
Ataques epilépticos ocorrem quando neurónios disparam juntos de maneira incontrolável. Mas o que faz as células entrarem em curto-circuito? Em Janeiro, cientistas descobriram uma resposta inesperada. Quando células gliais no córtex de moscas da fruta não conseguem controlar seus níveis de cálcio adequadamente, eles deixam neurónios vizinhos vulneráveis a convulsões.
Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts identificaram uma mutação genética que faz moscas da fruta entrarem em convulsão quando são expostas a calor ou vibrações.
Enquanto estudavam a mutação, os cientistas descobriram que ela afecta um gene chamado de zydeco, que controla a troca de cálcio entre células gliais – algo surpreendente, considerando que a maior parte da pesquisa sobre convulsões se concentrou em neurónios porque são eles que disparam impulsos eléctricos, enquanto a maioria das células gliais não o faz.
“Isso nos deixou muito confusos inicialmente”, explica Jan Melom, principal autora do estudo e aluna de pós-graduação do MIT.
A mutação identificada no estudo evita que minúsculas flutuações de cálcio ocorram nas células gliais, que Melom acredita resultar em um acúmulo de cálcio no interior das células.
O stress, como o calor, normalmente aumenta ainda mais os níveis de cálcio, então a combinação poderia disparar “algum tipo de reacção glial que se transforma em convulsão”, declara ela.
Uma grande pergunta é como as células gliais se comunicam com neurónios, fazendo com que fiquem super-estimulados. Como uma versão do zydeco existe em mamíferos, a resposta poderia ajudar a explicar a génese de ataques epilépticos em humanos.
Características das células gliais As células gliais têm muitos papéis importantes no cérebro, incluindo regular o desenvolvimento e função de sinapses, Promover a sobrevivência e protecção dos neurónios após ferimentos, auxiliar o aprendizado e a memória, ajudar no controle do fluxo sanguíneo e regular o humor.
As células gliais também participam de uma gama de doenças e transtornos, como epilepsia; deterioração dos vasos sanguíneos; depressão; esclerose múltipla e doença de Alzheimer.
Cientistas acreditavam que células gliais, que são pelo menos tão numerosas quantos neurónios no cérebro, eram células passivas de apoio; o termo “glia” vem da palavra grega para “cola”. Pesquisas da última década revelaram que essas células, e também neurónios, são participantes activos da cognição
Por Melinda Wenner Moyer
Scientif American