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  Céptico  04 Ago 2013

Reativação cerebral explica experiência de quase morte
Céptico contesta Eben Alexander, neurocirurgião e autor do livro "A prova do paraíso"

Céptico por Michael Shermer - Vendo o mundo com olhos racionais

No best-seller de Eben Alexander, Proof of Heaven: A Neurosurgeon’s Journey into the Afterlife (Simon & Schuster) [“Prova do Paraíso: A Jornada de um Neurocirurgião no Pós-Vida”, em tradução livre, não-oficial], ele reconta sua experiência de quase-morte (EQM) durante um coma induzido por meningite. Quando li que o paraíso de Alexander incluía “uma linda garota, com maçãs do rosto altas e profundos olhos azuis” que lhe ofereceu amor incondicional, eu pensei “É claro, cara. Eu também já tive essa fantasia”. Mas quando eu o encontrei no set do novo talk show ao vivo de Larry King, em Hulu, percebi que ele realmente acredita ter ido para o céu. Será que foi?

Pouco provável. Em primeiro lugar, Alexander alega que seu “córtex estava completamente desligado” e que sua “experiência de quase-morte... aconteceu não enquanto seu córtex estava funcionando mal, mas simplesmente designado”.

Na sala verde de King, eu perguntei a ele como, se seu cérebro realmente não estava funcionando, ele poderia ter qualquer lembrança dessas experiências, já que memórias são um produto da actividade neural? Ele respondeu acreditar que a mente pode existir separadamente do cérebro. Perguntei-lhe como?, onde? Isso nós ainda não sabemos, respondeu ele.

O fato de que a mente e a consciência não são completamente explicadas por forças naturais, porém, não é prova do sobrenatural. De qualquer forma, existe uma razão para essas experiências serem chamadas de quase-morte: as pessoas que passam por elas não estão realmente mortas.

Em segundo lugar, nós agora conhecemos vários factores que produzem alucinações tão fantásticas, explicados com maestria pelo grande neurologista Oliver Sacks em seu livro Hallucinations (Knopf), de 2012.

O neurocientistas suíço Olaf Blanke e seus colegas, por exemplo, produziram uma “pessoa de sombras” em uma paciente ao estimular sua junção temporoparietal esquerda. “Quando a mulher estava deitada”, relata Sacks, “uma leve estimulação dessa área deu-lhe a impressão de que alguém estava atrás dela; uma estimulação mais forte permitiu que ela definisse esse ‘alguém’ como sendo jovem, mas de sexo indeterminado”.

Sacks se lembra de suas experiências tratando 80 pacientes com pós-encefalite parkisoniana profunda (como se vê no filme Tempo de Despertar, que estrelou Robin Williams em um papel baseado em Sacks), e aponta: “Eu descobri que talvez um terço deles havia passado por alucinações visuais durante anos antes de o 1-dopa ser introduzido – alucinações de um tipo predominantemente benigno e sociável”.

Ele especula que “isso pode estar relacionado à seu isolamento e privação social, sua saudade do mundo – uma tentativa de fornecer uma realidade virtual, um substituto alucinatório para o mundo real que lhes havia sido tirado”.

Enxaquecas também produzem alucinações, que Sacks já experimentou pessoalmente como uma vítima de longo prazo, incluindo uma “luz cintilante” que era “deslumbrantemente brilhante”: “Ela se expandiu, tornando-se um enorme arco que ia do chão até o céu, com bordas afiadas, reluzentes, e brilhantes cores azuis e alaranjadas”.

Compare a experiência de Sacks com a viagem de Alexander até o paraíso, onde ele “estava em um lugar de nuvens. Grandes, fofas, rosa-alvas, que apareciam nitidamente contra o céu azul escuro. Mais alto que as nuvens – imensuravelmente mais alto – multidões de seres transparentes, cintilantes, voavam pelo céu, deixando longas linhas atrás de si, como flâmulas”.

Em um artigo publicado no Atlantic em Dezembro [de 2012], Sacks explica que a razão de alucinações parecerem tão reais “é que elas activam os mesmos sistemas cerebrais das percepções reais. Quando alguém alucina vozes, as rotas auditivas são activadas; quando a alucinação é um rosto, a área fusiforme do rosto, normalmente usada para perceber e identificar rostos no ambiente, é estimulada”.

Sacks conclui que “a hipótese mais plausível no caso do Dr. Alexander, portanto, é que sua EQM não aconteceu durante seu coma, mas enquanto ele estava voltando do coma e seu córtex estava voltando a funcionar completamente. É curioso que ele não permita essa explicação natural e óbvia, mas insista em uma explicação sobrenatural”.

A razão de as pessoas se voltarem a explicações sobrenaturais é que a mente abomina a ausência de explicação. Como ainda não temos uma explicação completamente natural para a mente e a consciência, as pessoas se voltam a explicações sobrenaturais para preencher o vazio. Mas o que é mais provável? Que a EQM de Alexander tenha sido uma viagem ao paraíso, e que todas essas outras alucinações sejam apenas produto de actividade neural, ou que todas essas experiências sejam mediadas pelo cérebro, mas pareçam reais para cada indivíduo? Para mim, essa evidência é prova de alucinações, não do paraíso.

Scientifc American



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