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Existência

de Diogo Castelão Sousa

em 15 Fev 2024

  O fim da vida é a contemplação. A contemplação como ‘fim’ significa o inebriante repouso na consciência pura, que descobre o mundo como novo e a si mesma como fonte inesgotável de felicidade. Contemplar significa perder a noção de “eu”, fundir-se com o objeto de contemplação e consequentemente, dissipar qualquer noção de ‘dualidade’. Perder a imagem que se tem de si mesmo, ao se penetrar e submergir nas águas do objeto a contemplar. Processando-se este ato, resulta o Amor, que por si só revela ser a essência e fundamento da vida, validando o momento em que o nosso ser ou íntimo mais profundo, reconhece, na verdade, ser o momento presente o repouso de paz e perfeição.

A História Genesíaca representa este fim ao terminar cada passo da Criação com a aprovação e maravilhamento de Deus: “E Deus viu que era bom” (Gen. 1-25). Esta contemplação primordial da existência como obra digna de louvor e admiração é o fito primordial da Humanidade, ou seja, o ponto de contacto entre o Divino e as esferas da Criação. Tal consciência, regida sob a perspetiva da eternidade (sub species aeternitatum) representa o elo de ligação capaz de resgatar o fulgor original da visão do Bem, como essência imutável de toda a existência. Assim, num grau último, a contemplação da vida não como mero acaso, mas presença divina do Bem nela oculto, é o fim de todos os seres que, perdidos além do Éden, um dia Nele se encontrarão novamente.

Existem diversos modos de acesso ao ‘estado contemplativo’. No reino da Natureza torna-se mais evidente e natural a meditação, dado existir um maior apelo para o silêncio interior. De igual modo, notamos, através de uma percepção clarificada, o ciclo vida-morte em tudo o que existe, através dos elementos naturais que nos vão dando indícios da sua efemeridade. Ao mesmo tempo, tudo abranda e readquire um novo fulgor que, evidentemente, não está desassociado do mundo moderno, mas que ‘ganha corpo’ nesse espaço, longe das garras e apelos mundanos.

Consequentemente, tomar a liberdade de ‘tudo largar’ e conhecer este estado mental, passa pelo desapego das metas mundanas, o que significa por sua vez uma mudança radical na percepção do estado-de-coisas que rege a nossa vida. Objetos e bens temporários que antes definíamos como essenciais perdem o seu estatuto, e dão lugar a uma consciência maior, que ‘capta’ o transitório pelo que é. Percebendo essa ilusão, enraíza-se o amor, que emana da contemplação livre de apegos e possessividade, na definição daquilo que é, ou se deve constituir, o sentido das nossas vidas.

Aquilo que vemos passam a ser as quimeras do mundo moderno, as lutas, dores e agonias que resultam da busca interminável da satisfação no transitório, que nos cega para aquilo que é. Pois sendo subjugados a um mundo onde a hiperatividade e produção são uma constante, perde-se amiúde a noção da importância do silêncio mental, ou contemplação. Na presença tranquila da Natureza, tornam-se ambos uma realidade mais próxima e evidente.

Porém, seria a contemplação algo meramente passivo? A contemplação não está separada da ação. Pois quem contempla também age e quem age pode, de facto, contemplar, dado não ser a Vida algo inerte, mas uma ‘constante de movimento’. Ambos, na realidade, são dois aspetos de um só todo. Assim, a ação e o progresso demonstram ser, de igual modo, essenciais à vida humana. A luta pelos bens, educação e necessidades básicas convocam e exigem por parte do ser humano um eterno labutar. Não é por acaso que a história das civilizações se define e mede pelo progresso coletivo e inteligente da humanidade.

Contudo, após servidas as necessidades básicas, não são as metas materiais o ‘tecto’ da nossa existência, ou seja, aquilo que nos traz perfeita completude ou satisfação. Antes o apego ao transitório densifica-se e torna inapta a consciência que nele procura a felicidade derradeira. Começando pela fixação de um ideal ou sonho, este materializa-se sob a forma de um parceiro/a ideal, profissão, carreira, instituição, lugar ou bem que possuímos. Não obstante ser necessário ensaiar e aprender na vida, alocar o sentido da nossa existência a um objeto ou estado transitório garante, à partida, sofrimento e desilusão futuros. Logo, só no ‘ponto’ onde realmente sucede o desapego e a renúncia perante o transitório, é que se torna possível a descoberta de algo mais, de um Todo, longe de particularizações, em que reconhecemos que a contemplação, livre de objetos, é o nosso estado natural, por direito.

Assim, neste sentido, o fito último da existência radica na elevação à pura contemplação. Transcendidos os desejos, sublimados os pensamentos, transmutadas as emoções, a contemplação dá lugar ao amor incondicional que, por fim, se converte no sentido genuíno das nossas vidas. A existência tal como ela é, memorável, na sua natureza.
   


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