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As viagens, quando empreendidas com o sentido de peregrinação contribuem para a elevação de Consciência, e o seu efeito espiritual começa, a partir dos primeiros passos, até ao local, ao objectivo.
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Os Padres no Tibete
de Estevão Cacela
em 08 Jun 2023
“...e chegamos a Pargão depois de quatro jornadas. Começa esta cidade num campo muito formoso, largo, e aprazível entre serras «montanhas do Himālaya» que de uma e outra parte o vão acompanhado. Elas em si alegres à vista, e muito acomodadas as searas de trigo, e arroz de que então estavam cobertas; reparte-se o campo com duas grandes ribeiras que o fazem muito para ver, principalmente com a frescura que tem de grandes sinceiros, e muito levadas de água que das ribeiras saem; com o campo começam os edifícios das casas muito grandes, e altas, que comummente são de três, quatro, cinco sobrados, de paredes muito grossas, com janelas e varandas que as formam; não estão estes edifícios em forma que façam ruas, ficam divididos uns dos outros em todo o campo, e pelos pés das serras em forma que fazem uma cidade, mas tão comprida que só o que andarmos e vimos dela serão três léguas, ficando-nos ainda mais para ver; porque o campo vai continuando na forma que tenho referido até dar em uma serra que o parte pelo meio com o qual veem as duas ribeiras de uma a outra parte que regam o campo, e nesta serra faz a cidade dois grandes braços que pelos lados dela vão pelas ribeiras acima grande espaço.
Cartas dos Padres Missionários Estevão Cacela e João Cabral
São aqui transcritas partes das Cartas, tal como os Padres as escreveram. Referem os missionários que em plena jornada pelos Himālayas (§), encontraram uma comunidade Budista, com a qual conviveram durante dois meses. Ouviram falar de Shambāla e passaram depois pelo deserto de Gobi até Shigatzé. A primeira é a Relação que mandou o Padre Estevão Cacella, da Companhia de Jesus, ao Padre Alberto Laércio Provincial da Província do Malabar da Índia Oriental, da sua viagem para o Catayo, até chegar ao Reino do Potente (Tibete).
A gente parece inumerável, e lançada a conta a menos que ali vivera hão-de ser mais de quinhentas mil almas; ao que ajuda muito o modo que comummente tem de morar naquelas casas, porque em cada uma delas há muitos moradores divididos pelos sobrados e repartimentos que para isso fazem; aos 25 de Março, entramos nesta cidade, dia em que o Eterno Verbo vestido de nossa humanidade «nascimento de Jesus» entrou neste mundo, e de sua infinita bondade esperamos que a entrada em tal dia naquela terra seja para todo aquele povo o reconhecer por seu Salvador. Não podemos logo chegar a casa do companheiro que nos guiava, e quando ao dia seguinte entramos nela achamos ter-nos aquela manhã roubado tudo quanto trazíamos para nossa sustentação; meteu-nos numa casa sua tão escura, que ao meio-dia não nos víamos, e mais parecia cárcere que outra coisa.
Logo lhe pedimos nos quisesse buscar o que nos faltava, pois para nos trazer com segurança vinha por nosso guarda; mas ele muito seguro de si nos respondia, que descansaria, e depois faria a diligência mostrando em tudo o pouco que se lhe dava de nos ser tão infiel depois de nos fiarmos nele, e assim se enfadava notavelmente de lhe falarmos na matéria dizendo que aquele negócio não era de um dia, mas que havia de durar meses, e que vindo de Runate o homem que lá nos negociara, ele faria o que lhe parecesse. Vista a danada resolução deste homem, e outros sinais que dava de coração infeccionado com ruins traças, de que o Senhor nos livrou, e depois soubemos, nos resolvemos a sair de sua casa, para o que havia grandes dificuldades, mas passados dois dias vendo que ele faltava muito tempo em casa, saímos dela, ao que acudindo logo os parentes nos detiveram e lhe levaram recado do que se passava; era notável a paixão com que este homem veio impedir-nos, e querer outra vez à força meter-nos em casa; valendo-se das armas e de tudo o que pode contra nós; mas foi Deus nosso Senhor servido que com a paciência o vencemos resistindo só com esta, a paixão e cólera de que vinha arrebatado. E como neste tempo acudiu muita gente que viu e sem razão que aquele homem nos fazia, e se compadecia de nós procurando aquietá-lo e recolhê-lo em casa, nos desembaraçamos dele; e recolhendo-nos aquela noite em casa de um bom velho que por amor de Deus nosso Senhor nos fez agasalhado, ao outro dia um Lama autorizado quem o Padre João Cabral primeiro tinha falado, nos mandou cavalos e gente sua que nos levasse a sua casa, que ficava muito longe desta paragem; mas chegando-nos a ele o achamos mudado a respeito de temer brigar com o homem que nos roubara, se em casa nos recolhesse: porém foi nosso Senhor servido que se animasse a não reparar naquele inconveniente, posto que depois de estarmos em sua casa por respeito do mesmo homem nos impedia ir avante em tal forma que querendo outro Lama levar-nos, a gente deste com armas lhe defendeu o não fizesse.
(... continua)
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