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Demanda
de Maria
em 19 Fev 2012
Estamos perante uma grande mudança cultural e social, senão mesmo num limiar duma nova civilização. Quando as pessoas futurizam acontecimentos que influenciarão a humanidade numa mudança repentina, não dando pela grande mudança na qual estamos já vivendo, estão cegos ou adormecidos.
A transição do passado para o futuro já foi feita num presente tão fugidio que escapa ao menos atento. Deparo-me com a transição todos os dias, num mundo que ainda vou reconhecendo e noutro que me vou adaptando.
Não é só a economia financeira que provoca a mudança, mas a mentalidade, que depende nos tempos actuais da multifacetada cultura, não só em Portugal como no resto do mundo.
A diversidade de raças e de culturas em Lisboa é impressionante!
Isto vem a propósito da minha demanda no centro de Lisboa, numa necessidade tão básica e simples quanto a procura de calçado, para substituir o já gasto de tantos anos e, por tantos quilómetros percorridos, pois ando muito a pé, sendo este o meu exercício físico para manter a saúde do corpo.
Depois de algumas buscas infrutíferas por centros comerciais, dirigi-me à baixa de Lisboa, onde por norma, se encontravam as melhores sapatarias. Encontravam, leram bem, desoladamente, verifiquei que uma boa parte delas fecharam e, as que há, apresentam um aspecto bem decadente também na iminência de desaparecem. Em sua substituição encontram-se umas lojas, tipo feira de calçado, com modelos grosseiros, sem qualidade de formas obtusas e grotescas. Perguntava eu na minha frustrada demanda, onde encontrar o calçado português, que ainda hoje é considerado entre os melhores produtos do mundo? É todo para exportação?
Naturalmente, os leitores dos meus artigos não estão habituados a que fale de coisas tão triviais como o de andar às compras, porém, se estou a dar-lhe o valor de uma crónica é porque considero, que foi importante o meu esforço na procura de sapatos confortáveis e impermeáveis - hoje não temos garantias de não ficarmos com os pés encharcados com uma chuvada - para me aperceber desta mudança tão radical da nossa economia e, da escassez dos produtos de qualidade substituídos pelos de baixo custo, que sendo mais acessíveis às fracas bolsas portuguesas, deixam, contudo, muito a desejar quanto à qualidade.
Na realidade, não reconheci a baixa de Lisboa, pois para além da decadência ao nível do comércio, mostra também um ambiente desconexo de grande viragem social e cultural. A mudança instalou-se naquilo que já não é, e num presente que nos escapa em contínua transição, deixando-nos num sentir desconfortável, sem uma razão evidente e específica, que faça sentido à nossa compreensão.
Desolada, e numa segunda fase (noutro dia) dirigi-me à Avenida de Roma, onde em tempos (décadas) se encontravam sapatarias de qualidade, mas infelizmente encontrei a mesma degradação comercial, onde uma boa parte das lojas, de qualquer ramo, estão fechadas ou em franca decadência: é compreensível o nível alto a que chegou o desemprego.
Concluindo, nesta contextualização da realidade económica e financeira do país, consola-me a ideia de que esta actual mudança social e cultural, e para a qual contribuímos com a nossa expansão marítima na época dos Descobrimentos, traz e trará, obviamente, os seus benefícios, como em tudo na vida, se não nos agarrarmos ao que já foi (o passado). Ao projectarmos as nossas forças, esperanças e ambições, quer humanos, quer espirituais no agora, e acreditando nas nossas capacidades para nos sobrepormos ao desânimo ou à passividade fatalista, enfrentaremos melhor o futuro que nos bate à porta, afinal, minuto a minuto.
A busca da paz e da felicidade interior é cada vez mais requerida para se viver com amor e segurança a tão incontrolável impermanência.
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