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A Oração

de Diogo Castelão Sousa

em 26 Fev 2024

   Se o Homem entretém uma relação pessoal consigo mesmo, porque não haveria de idealizar uma relação pessoal com Deus? Se o homem ‘fala’ consigo mesmo, se julga, observa e autoanalisa, porque não haveria ele de reconhecer que Deus também o ‘perscruta’? Deus assegura que um dia o Homem o Há de encontrar porque Dele proveio e para Ele um dia irá, como sua Divina Origem.

Jesus fala-nos da necessidade desta relação pessoal com Deus, exortando-nos a invocá-Lo nas nossas vidas. Para tal, revelou há 2000 mil anos uma Oração simples e universal, de ligação a Deus: o ‘Pai Nosso’, onde estão condensados os pilares fundamentais de todo o ato oratório da humanidade. Nesta oração perene, cuja presença perdura até aos dias de hoje, utilizada por milhões de crentes pelo mundo fora, encontram-se concentrados ensinamentos intemporais que nos falam da realidade divina, de forma simples e natural.

O propósito final de toda a oração, como disse certo filósofo, não é obter o que desejamos, mas mudar a natureza do nosso ser.

Em primeiro lugar, esta Oração inicia com a invocação solene a Deus: “Pai Nosso, que estás no céu”, onde Jesus revela a intimidade que Deus tem para connosco, designando-o de ‘Pai’. Interessante será notar igualmente como o pronome possessivo ‘meu’ é substituído pelo ‘Nosso’, onde o ‘eu’ é convertido no coletivo da Humanidade. Igualmente, ao enunciar ‘Que estais no céu’, é Lhe associado um estado gracioso, de sublimidade, glória e inefabilidade.

De seguida, é realçada a exortação do Serviço através da obediência à Sua Palavra ou Desígnio Divino: “Seja feita a Tua Vontade assim na terra como nos céus.”

De igual modo, clama: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”, reportando-se à provisão do alimento quer para o Espírito, quer para a Matéria, assegurando com confiança as necessidades básicas, a nível físico, emocional e mental, ao mesmo tempo clamando pela graça da saúde espiritual.

Posteriormente, segue-se a súplica “Perdoa as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Trata-se de uma exortação reveladora da natureza misericordiosa do coração de Jesus, na qual o perdão é uma constante.
Tal como Jesus ensinou “não julgueis, para que não sejais julgados” (Mateus 7:1-2), nesta frase está condensada a natureza do perdão, onde a forma como encaramos o mundo revela a forma como nos sentenciamos a nós próprios.

A oração completa-se com as palavras finais “E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos de todo o mal”, onde o apelo se dirige à constância da retidão do caminho, passível de sofrer ‘ataques’ ou ser assaltado por dúvidas, assegurando que a prática do bem deva ser a bússola que norteia os passos a tomar.

No fundo, através desta prática oratória, é revelado à humanidade um caminho para a construção de uma relação pessoal com Deus, com a sua base na fé em Cristo, através do aspeto devocional que tal ligação exige que aconteça.

A relação pessoal com Deus acontece em Cristo, porque a mediação do inefável com o humano precisa de um elo intermédio, de uma figura que reúna os atributos de Deus, que represente o Espírito na carne humana, o verbo encarnado.

E. Stanley Jones (1884-1973), missionário americano cristão, amigo próximo de Gandhi e confidente do Presidente Franklin. D. Roosevelt, designado em 1938 pela revista Time como ‘o maior missionário cristão do mundo’, que dedicou grande parte da sua vida a difundir a mensagem de Cristo na Índia (veja-se o movimento dos ashrams cristãos), escreveu: “A maior notícia que alguma vez foi dada à raça humana é a notícia de que Deus é como Cristo”. Jones escrevia estas palavras não só com a ideia de que Cristo possibilita uma relação pessoal com Deus, mas com o sofrimento do mundo em revisão, com o sangue dos inocentes em mente, sublinhando que, se Deus é verdadeiramente semelhante a Cristo em caráter e justiça, cujo amor incondicional toca a todos, desde os mais marginalizados, aos leprosos, aos cegos e às pequenas crianças, “se o seu coração é como aquele coração gentil que se quebrou na cruz, então ele pode ter o meu coração sem reservas e sem questionamentos.”

Como tal, a relação pessoal com Deus é fundamental, uma vez que a Vida Humana necessita de um Propósito Superior, de um Rumo Maior, de cuja relação possa surtir um caminho ascensional a uma vida mais ética e consciente.

Assim, não só o ser humano deve reconhecer e analisar a relação que entretém consigo mesmo, o seu caráter, as suas escolhas e ações, como construir uma relação com o Superior, nas profundezas do seu Ser, através do seu coração. O Motivo maior que guia cada passo das nossas vidas deve ser assumido, para que, nas profundezas da nossa alma, possa também ser realizado, habitando em nós, o Espírito Supremo.
     


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