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Mudar de Rumo
de Maria João Firme
em 26 Jan 2015
Há períodos das nossas vidas em que nos encontramos perante uma encruzilhada – não faz sentido continuar pelo mesmo caminho mas tememos o outro lado, o horizonte vazio. Tropeçamos constantemente em pedregulhos, do solo saiem troncos de árvores que nos armadilham e fazem cair, perdemo-nos num emaranhado de caminhos, cada vez mais confusos, sem vermos saída em nenhum deles. Estamos a perder o chão.
O momento certo:
A medo, damos uma olhadela para o outro lado. O horizonte vazio, o nada, um imenso espaço de ar abafado, como se o céu nos fosse cair em cima. O silêncio é confrangedor e escolhemos novamente o ruído que nos torna surdos, os tropeções e as quedas, respirando apenas com a escassez de ar a que estamos habituados.
Um dia, o ruído torna-se realmente ensurdecedor e a respiração superficial transforma-se em períodos de apneia, cada vez mais intensos e dolorosos. Podemos desenvolver bronquites, asma ou outras doenças de pulmões, pois navegamos à deriva num mar de tristeza profunda. Olhamos para o outro lado e compreendemos que também estamos a perder o céu.
Repentinamente, um silêncio total. Num milésimo de segundo, o vazio absoluto. Estamos sós connosco próprios.
Olhamos novamente o horizonte e agora as cores gritam como aves, em azuis e rosas intensos e suaves, ventos rodopiam nos céus e brisas percorrem ritmadamente as nossas narinas, brônquios, bronquíolos e pulmões. E agora sim escolhemos, pois este é o momento de criação.
Descemos à terra e começamos a afastar as pedras do caminho. Olhamos delicadamente os troncos de árvores no solo e, dando o passo certo, caminhamos sem olhar para trás.

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