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Dhammapada - 3
de Acharya Buddharakkhita
em 29 Set 2013
De acordo com a Tradição Budista Theravada, cada verso do Dhammapada foi originalmente proferido pelo Buddha como respostas a episódios específicos. Relatos destes, juntamente com a exegese dos versos são preservados no comentário clássico da obra, compilados pelo grande erudito Bhadantacariya Buddhaghosa no século V a.C., assente em textos que remontam a tempos muito antigos. O conteúdo dos versos, no entanto, transcende as circunstâncias limitadas e particulares da sua origem, alcançando através dos tempos, vários tipos de pessoas em diversas situações da vida. Para o simples e humilde, o Dhammapada é um bom conselheiro; para o exigente intelectual, os ensinamentos claros e directos inspiram respeito e reflexão; para aquele que busca com sinceridade, funciona como uma fonte perene de inspiração e instrução prática. As compreensões que brilharam no coração do Buddha, cristalizaram-se nestes versos luminosos de pura sabedoria. Como expressões profundas de espiritualidade, cada verso é uma directriz para um viver correcto. O Buddha de uma forma inequívoca salientou que quem praticasse sinceramente os ensinamentos encontrados no Dhammapada, provaria da felicidade da libertação.
Pupphavagga: As Flores
44. Quem vencerá esta terra, este reino de Yama, esta esfera de homens e deuses? Quem alcançará a perfeição no bem ensinado caminho da sabedoria, tal como a florista faria com perfeição o seu arranjo floral?
45. Aquele que se esforça no caminho(g) há-de superar esta terra, este reino de Yama e esta esfera de homens e deuses. Aquele que se esforça no caminho há-de levar à perfeição o bem ensinado caminho da sabedoria, assim como a florista faria com perfeição o seu arranjo floral.
46. Percebendo que este corpo é como espuma, penetrando na sua natureza ilusória, e arrancando as flechas de sensualidade de Mara com flores na ponta, segue para além da visão do Rei da Morte!
47. Assim como uma inundação poderosa leva de enxurrada a aldeia que dorme, também a morte leva de enxurrada a pessoa de mente distraída que só arranca as flores (do prazer).
48. O Destruidor traz sob sua influência a pessoa de mente distraída que, insaciável em desejos sensuais, apenas arranca as flores (do prazer).
49. Assim como a abelha recolhe o mel da flor sem ferir sua cor ou fragrância, assim vai o sábio(h) na sua ronda a recolher comida na vila.
50. Que ninguém procure o defeito nos outros; que ninguém observe as omissões e acções dos outros. Mas observemos os nossos próprios actos.
51. Tal como uma flor bonita cheia de cores mas sem fragrância, da mesma maneira, infrutíferas são as palavras justas de quem não as pratica.
52. Tal como uma flor bonita cheia de cor e também fragrância, da mesma maneira, frutuosas são as palavras justas de quem as pratica.
53. Assim como de um grande molhe de flores se podem fazer muitos arranjos florais, também muitas acções boas deviam ser feitas por quem nasce mortal.
54. Não é o doce cheiro das flores, nem sequer a fragrância do sândalo, tagara(i), ou do jasmim que sopra contra o vento. Mas a fragrância do virtuoso sopra contra o vento. Na verdade, o homem virtuoso atravessa todas as direcções com a fragrância
da sua virtude.
55. De todas as fragrâncias – sândalo, tagara, lótus azul e jasmim – a mais doce de todas é a da virtude.
56. Débil é a fragrância de tagara e sândalo, mas excelente é a fragrância do virtuoso, flutuando até por entre os deuses.
57. Mara nunca consegue encontrar o caminho de quem é verdadeiramente virtuoso, que persevera diligentemente e que se liberta pelo conhecimento perfeito.
58. Sobre um monte de esterco na valeta à beira da estrada, cresce um lótus, agradável e com fragrância.
59. Da mesma maneira, no monte de esterco dos cegos mortais, o discípulo d’Aquele que se Iluminou de forma Exímia brilha resplandecente em sabedoria.
Bālavagga: O Louco
60. Longa é a noite para aquele que não dorme; longa é a légua para o fatigado. Longa é a existência mundana para os tolos que não conhecem a Verdade Sublime.
61. Se aquele que busca não encontra companhia melhor ou igual, deixá-lo perseguir resolutamente um caminho solitário, não tem que se associar aos tolos.
62. O tolo preocupa-se, pensando: “Eu tenho filhos, eu tenho riqueza”. Na verdade, se nem ele próprio pertence a si próprio, quanto mais os filhos, ou a riqueza?
63. Um tolo que conhece a sua loucura é sábio, pelo menos até esse ponto, mas um tolo que se julga sábio é seguramente um tolo.
64. Mesmo que um tolo se associe toda a sua vida com um homem sábio, ele não compreende a verdade mais do que a colher prova o sabor da sopa.
65. Mesmo que por apenas um momento, uma pessoa com discernimento se associe a um homem sábio, ela rapidamente compreende a verdade como a língua saboreia o sabor da sopa.
66. Tolos de fraco discernimento são inimigos para si próprios, sempre que se movimentam fazem coisas más, cujos frutos serão amargos.
67. Mal feita é aquela acção que a seguir traz o arrependimento, cujo fruto se colhe com lágrimas.
68.
(... continua)
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