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Para Além do Sentido de Si

de Ajahn Sumedho

em 23 Fev 2014

  Penso que há algo que interessa a todos – que é sobre nós próprios - uma vez que somos o tema das nossas vidas. Temos naturalmente este interesse pois temos que viver connosco a vida inteira, independentemente da nossa opinião sobre nós mesmos. A nossa percepção pessoal pode assim ser algo que nos traga muitas dificuldades se nos virmos da maneira errada. Mesmo sob circunstâncias confortáveis, se não nos virmos da maneira correta, acabaremos por criar sofrimento nas nossas mentes. Buddha salientou que a maneira de resolver o problema não passa por tentar fazer com que tudo corra bem e seja agradável na dimensão exterior, mas antes o desenvolvimento da compreensão correta e da atitude correta perante nós mesmos. É aqui que está toda força do seu ensinamento.

Ao vivermos em Inglaterra, nesta época, esperamos conforto e todo o tipo de direitos e previlégios. Isto torna a vida mais agradável de várias maneiras, mas quando todas as nossas necessidades estão garantidas e a vida é confortável, há algo em nós que não se desenvolve. Por vezes é a luta contra as adversidades que nos faz desenvolver e amadurecer como seres humanos. Recordo-me de que quando vivia em Londres, costumava caminhar no “Hampstead Heath” pela manhã e observar as pessoas mais abastadas a levar os seus cãezinhos a passear no “Heath”. Costumava pensar que não seria assim tão mau nascer como um cãozinho de estimação aqui em Inglaterra: ter uma senhora simpática sempre a mimar-nos, a fazer pequenas roupinhas para o inverno e a dar-nos saborosos biscoitos de cão para comermos. Parecia que uma vida de afecto e conforto seria muito agradável! Mas a verdade é que a maioria de nós iria sufocar: necessitamos de nos comparar com outros, de lutar e aprender como ir para além das limitações que pensamos ter neste momento. Iremos encontrar a derrota quando nos entregamos às nossas limitações através da resignação. Então é claro que ficaremos deprimidos e miseráveis.

Porém, quando renunciamos aos condicionalismos mentais e nos contemos com sabedoria, então encontraremos a libertação! A vida é a experiência do condicionalismo e da contenção, é nascer num corpo humano e ter que viver de acordo com as leis naturais do planeta terra. Mentalmente podemos ascender aos céus mas fisicamente estamos condicionados pelas limitações que se tornam cada vez mais restritivas à medida que envelhecemos. Tal não precisa de ser visto como sofrimento pois é assim que as coisas são. Podemos desenvolver uma atitude diferente e aprender a aceitar tais limitações – não pela resignação negativa mas porque percebemos que aquilo que procuramos está dentro de nós. Não precisamos de procurar fora de nós, não precisamos pensar que é algo inacessível ou afastado. Depende da nossa vontade de parar de resistir, de acalmar, de ouvir e despertar para a nossa experiência consciente. Claro que o grande obstáculo a isso é que temos uma noção de nós mesmos como sendo isto, aquilo ou aquela coisa.

A nossa noção de nós próprios é algo que se torna consciente quando somos crianças; quando nascemos não existe a noção de um 'eu' que é coisa alguma. À medida que crescemos, então aprendemos aquilo que devemos ser, se somos bons ou maus, se somos adoráveis ou não, se temos ou não aprovação. Desenvolvemos assim uma idéia de 'eu'. Frequentemente comparamo-nos com os outros e temos pessoas como exemplos de como devemos ser quando crescermos. Na minha própria experiência reparei que o ego começou realmente a consolidar-se quando fui enviado para a escola: fui atirado para salas de aula com aquelas crianças estranhas e comecei a reparar quem seria o mais forte, o mas duro, quem seria aquele que o professor mais gostava. Viamo-nos em termos da nossa relação com os outros. Desenvolvemos esta coneção pela vida fora, a menos que deliberadamente, escolhamos mudar e comecemos a procurar uma forma mais profunda de viver as nossas vidas do que, simplesmente, sob os condicionamentos da mente que foram adquiridos quando eramos muito jovens. Mesmo quando envelhecemos ainda podemos ter atitudes muito adolescentes ou reações infantis em relação à vida, as quais não fomos capazes de resolver - apenas as suprimimos ou ignorámos. Tudo isto pode ser muito embaraçoso ou chocante.

Existe uma maneira de falarmos do 'eu' que soa muito doutrinal. Os budistas podem dizer, por vezes, que não existe eu como se fosse uma proclamação em que temos que acreditar: é como se existisse um Deus nas alturas dizendo “Não existe um eu!” e há algo em nós que resiste a essa declaração. Não parece ser verdadeiro o anúncio da inexistência de um eu - o que é essa experiência que se sente agora mesmo? Parece-nos, pelo contrário, que “aqui” existe um bem demarcado sentido de nós próprios!
  (... continua) 
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