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As personagens mais marcantes da história da humanidade reconhecem-se, pela sua criatividade interior, que impressiona e serve como farol aos que neles encontram o ideal espiritual.
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Fernando Pessoa
de Pedro Teixeira da Mota
em 12 Jun 2006
A Demanda de Fernando Pessoa ao longo dos anos pode parecer um percurso iniciático labiríntico, mas o fio foi encontrado, e a saída ou centro intuídos e registados, podendo nós agora partilhar deste caminho. Desde muito jovem interessado pelo mistério e pela metafísica, como o testemunham poemas intitulados «Metempsicose», «O Círculo» e «Nirvāna», ou fragmentos de ensaios, numa precocidade que ia já de encontro à sua tese «o génio é um iniciado de nascença», será, contudo, com a idade que, ao receber mais conhecimentos e ao despertar a sua consciência, conseguirá desvendar algumas dessas interrogações misteriosas. Mas quanto trabalho e sofrimento para retomar esse fio de Ariane...
Fernando Pessoa (§) nascido no ano certo, 1888, como escreveu seu amigo Ferreira Gomes, atravessou este País “extremizado” pelo catolicismo e pelo materialismo, extravasando a humidade lunar da sua sensibilidade, oca de pai desde os cinco anos, longe da pátria desde os sete, e assim crescida na saudade messiânica duma grandeza qualquer. Quando volta definitivamente da África do Sul em 1905, excelentemente desenvolvido na arte do raciocínio e na cultura geral, desilude-se da mediocridade reinante, abandona os estudos na faculdade de Letras, experimenta a rápida falência da empresa tipográfica Íbis que fundara, e emprega-se como tradutor e correspondente de casas comerciais da zona da baixa lisboeta, profissão que o sustentará modestamente ao longo da sua incarnação.
Colabora na revista nortenha “A Águia” com uma série de quatro artigos de análise literária e sociológica nos quais prediz, na linha do pensamento da Renascença Portuguesa, um ressurgimento pátrio e a vinda dum Super-Camões. Contudo, por certas diferenças em relação às tendências da revista e por má receptividade do secretário Álvaro Pinto, abandona a colaboração e entrega-se ao modernismo lisboeta, lançando em 1915 a revista Orpheu, que escandaliza o meio burguês da época. Pela mesma altura começa a traduzir alguns livros teosóficos, cujo conhecimento e moralidade elevados o abalam fortemente. Envolve-se então no aprofundamento do ocultismo, que entra em choque com o paganismo transcendental a que chegara. Uma evolução, ainda hoje pouco reconhecida, vai levá-lo a corrigir lentamente as tomadas de consciência e as posições anti-feministas, anti-humanitárias, anti-cristãs e anti-mística recebidas de leituras e influências ambientais anteriores.
Isolado afectivamente, sem amizades íntimas e apenas com um breve namoro, ainda que retomado, com Ophelia, experimenta crises depressivas por vezes, a que não deve ser estranho o facto de beber. Sobrevive também com dificuldades, mas vai sempre escrevendo e enchendo uma arca que ainda hoje tem muito que revelar: poesia e prosa sociológica, política, crítica, astrológica, sebastiãnica e esotérica. Nos últimos anos de vida, o pagão dá lugar ao gnóstico cristão, ao rosa+cruz, e o seu ensinamento espiritual, ainda hoje por sistematizar, baseia-se no desenvolvimento da meditação, da intuição, da analogia, no fazer o bem e criar a vinda do bem e numa ligação da alma com Cristo e com Deus.
É dos escritores portugueses conhecidos o que mais aprofundou o esoterismo, confessando-se na nota auto-biográfica de Março de 1935, “cristão gnóstico, fiel à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta em Israel (a santa Kabbalah) e com essência oculta da Maçonaria”, e iniciado na Ordem Templária de Portugal, para cuja ressurgência escrevia.
Deixa este plano físico em Novembro de 1935 ano em que se tornara mais conhecido do país ao publicar a Mensagem e um artigo em defesa da liberdade das Associações Secretas, nomeadamente a Maçonaria.
A sua profecia dum Super-Camões confirmou-se. A do V Império, dependerá de nós.
Livro da Sabedoria Portuguesa, 1989.
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