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Aqui também, a criatividade na Arte do Pensamento presta homenagem ao Ser, e para além de autores já consagrados, damos espaço aos jovens valores que connosco queiram colaborar em vários temas.

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Shakuntala (Śakuntalā)

de Abanindranath Tāgore

em 13 Ago 2018

  De todas as línguas do mundo o sânscrito foi sem dúvida a que produziu a mais abundante literatura. Dos poemas líricos, dois se destacam pela perfeição o Meghaduta e Śakuntalā ambos de Kālidāsa, que alcançou a maior popularidade tanto na literatura indiana, como na do ocidente. Kālidāsa, é assim considerado uma luz no firmamento literário do mundo. A riqueza da sua visão criadora, a sua percepção das belezas da natureza, aliada a uma melodiosa cadência métrica, é a combinação perfeita que colocam Śakuntalā, na vanguarda das obras líricas, pela suprema criatividade. Segundo a tradição indiana, Kālidāsa era um brâmane contemporâneo do rei Vikrama – Ādtya de Ujjayini por volta de 57 A.C. o qual teria protegido alguns literatos na sua corte. Embora seja incerta a data ou mesmo a era deste poderoso monarca protector das letras, situa no entanto a vida de Kālidāsa, havendo por isso limites entre 150 A.C. a 634 D.C.. É portanto, no século I A.C., que a tradição coloca Kālidāsa. Śakuntalā, a jóia indiana, em peça de teatro, começa por uma evocação à Divindade. Śakuntalā é o nome de uma jovem de 18 anos que foi criada na floresta, feliz no meio da natureza, educada por um sábio. Aqui, o saber é expresso nos diversos estados de alma de cada personagem, em diálogos que demonstram a espontaneidade não só dos sentimentos, como de uma fraternidade que comove pela pureza, que ainda hoje grande parte da humanidade não atingiu. A mística e espiritualidade fluindo pela boca dos participantes revela a grandiosidade do pensamento e da vivência quotidiana, assente na profunda filosofia e religiosidade da Índia. É de uma magia transcendente este excelente conto, que atinge delicadas nuances de universalidade.

O Eremitério do asceta Kamādeva

Era uma vez uma espessa floresta; nesta floresta havia um grande baniane (1); renques de palmeiras e renques de acácias; havia também colinas e uma montanha rochosa. Havia uma outra coisa ainda: uma pequena ribeira chamada Malinî. As águas do Malinî eram calmas e unidas como a superfície polida dum espelho. As árvores, o céu azul, as nuvens doiradas, a sombra das aves que voavam, tudo se reflectia no Malinî tão nitidamente como num espelho... Via-se uma outra coisa ainda nas águas do Malinī: o reflexo de algumas choupanas aninhadas sob as grandes árvores.

Naquela espessa floresta, nas margens da ribeira, homens e animais viviam, lado a lado, em perfeita harmonia.
Numerosos cisnes e garças reais, debatiam-se nas margens e nas águas; densos bandos de pequenos pássaros e papagaios verdes gorjeavam em todos os ramos e faziam ninhos em todas as cavidades dos troncos. Entre as ramagens da floresta, sobre a erva tenra e nos campos de arroz, veados e gazelas brincavam e perseguiam-se.
Na Primavera, os kokilas cantavam desde a alvorada, e no Outono ouviam-se os gritos de pavões que dançavam em roda.

Ao pé do gigantesco baniana (velho de três mil anos), Kamādeva, o piedoso asceta de cabelo entrançado, construíra o seu eremitério; vivia lá com sua esposa, a mãe (§) Gautamī, numa pequena choupana de folhagem, e os dois vestiam-se de túnica de casca de bétula. O seu estábulo estava cheio de vacas negras e vitelos impacientes; tinham outros vizinhos ainda: os jovens ascetas, seus discípulos, vestidos como eles, de casca de árvores.

Que faziam os jovens ascetas?
Todas as manhãs, liam as passagens das Santas Escrituras, com o seu mestre Kamādeva; depois, de mãos postas, ofereciam às divindades as mais belas flores da floresta; quando chegava um hóspede de passagem, acolhiam-no no eremitério e iam colher para ele as melhores frutas da floresta.

E que faziam, ainda, aqueles jovens discípulos?
Iam passear dois a dois, na floresta, e apanhavam lenha para alimentar o fogo sagrado; ou ainda, como os pastores, levavam a pastar nos prados as vacas negras e os bezerros brancos; por vezes, brincavam juntos, como crianças, à sombra das grandes árvores; construíam casinhas na areia, modelavam brinquedos e pássaros com argila, cortavam os bambus para fazerem flautas e com folhas de baniane faziam pequenos barcos.

Às vezes, os pavões e as gazelas eram seus companheiros de jogos.
E quando acabavam de brincar contavam uns aos outros a história das guerras entre os Deuses e os Demónios, e cantavam em coro as canções piedosas que lhes ensinava o pai Kamādeva.
(1) Figueira da Índia
Apesar da calma felicidade que reinava naquela abençoada floresta, Kamādeva e Gautamī viviam tristes; faltava-lhes alguma coisa: os dois tinham sido privados dum tesouro tão precioso que nada o pôde substituir; o diamante que outora iluminava a sua sombria choupana desaparecera; já não viam a pequena luz que brilhava na sombra; aquela a quem eles chamavam a chama da sua vida partira para longe – tinha perdido Śakuntalā, a sua bem-amada filha.

Quem era, então, Śakuntalā?
Era uma jovem mulher!
E que é que lhe sucedera? Por que desaparecera ela?
Para o sabermos recuemos muitos anos.
Outrora, na floresta que rodeia o eremitério, por uma noite sem lua, uma criança que acabava de nascer tinha sido abandonada por sua mãe, a ninfa Menakā; esta depois de a haver deposto na relva, tinha desaparecido para sempre.
Imediatamente todas as aves abrigaram a recém-nascida; cobriram-na com os seus peitos de penugem macia.

Menakā, a mãe de coração de pedra, tinha abandonado a sua filha, mas as aves da floresta, de coração complacente, haviam-na rodeado e protegido com amor e solicitude.
De madrugada, os jovens ascetas, que iam colher frutas para as oferendas rituais, avistaram de longe a fremente moita alada.
  (... continua) 
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