pág. 1 de 1
Filantropia
de Diogo Castelão Sousa
em 15 Set 2024
Será que sabemos o que é ajudar? No que consiste a verdadeira obra de caridade? O que é realmente a filantropia ou a compaixão nas relações pessoais? O que muitas vezes se entende por um gesto ou ato de caridade de pouco serve para ajudar o outro, caso não faça aquilo que há de mais importante: o torne independente, responsável e o coloque além de toda a necessidade de ajuda futura.
A mistura da caridade com a geração de uma maior dependência é um erro na tentativa de elevação da dignidade do outro. Não nos referimos aqui a doações a organizações sem fins lucrativos (ONG’s) ou apoios a instituições de várias áreas, que são necessários, mas sim à psicologia das relações humanas.
Aceitar falar da caridade como um bem ou ação digna pressupõe, portanto, que saibamos primeiro discernir as formas mais elevadas de auxílio que existem, das quais passaremos a enunciar quatro, de forma a ajudar o próximo no seu modo mais puro e genuíno.
Em primeiro lugar, a melhor forma de ajudar alguém é servir de exemplo. Só podemos realmente ajudar alguém quando nós próprios não necessitamos de auxílio. Se o nosso desejo é querer aliviar outrem do seu sofrimento enquanto padecemos da mesma condição, estaremos realmente a ajudá-lo a encontrar a resposta dentro de si? Se nós próprios não somos o reflexo daquilo em que acreditamos, como poderemos espelhá-lo verdadeiramente no outro? Como poderemos ser aquilo que não somos?
Em segundo lugar, a melhor forma de ajudar alguém é tornando-a capaz, independente, livrando-a da dependência de ajudas externas. Auxiliar verdadeiramente alguém não passa pela melhoria temporária da sua vida, mas sim a contribuição indelével para a sua liberdade, o desvincular da necessidade de ajudas externas ou futuras para a dignificação da sua vida.
A terceira melhor forma de ajudar alguém é livrar-lhe da ignorância. Quando um ser já trilhou certo caminho e possui certos valores na sua vida, irá à procura de sabedoria, nomeadamente daqueles que enunciam o caminho que eleva o ser acima da ignorância. Assim, os Grandes Sábios ou Seres que já percorreram um vasto Caminho afirmarão que não há maior ajuda do que auxiliar alguém a por termo ou fim à sua ignorância.
Por último, a melhor forma de ajudar alguém é livrar-lhe do sofrimento. Existem na verdade Seres que pela sua realização, conseguem irradiar luz e paz, a ‘ajuda’ que os seus próximos necessitam, através de uma cura energética que por vez produz ‘milagres’ ou despoleta transformações internas inesperadas. A sua realização ganha vida ‘ressoando’ no campo magnético à sua volta, podendo por vezes levar a uma transformação integral dos seus devotos, que perdura para toda a vida, sendo inúmeros os testemunhos dos que, ao estarem em proximidade com tais seres, puderam viver um estado de absoluta paz e tranquilidade mental.
Compreendendo que a verdadeira ajuda não deve ser seletiva, deve-se estender a todos, sem preferências ou exclusões. Apenas a forma como é oferecida deve variar de acordo com as necessidades de cada um. A sua única condição é a qualidade da ação, a intenção e não a quantidade envolvida, tal como quando Jesus explicou, ao falar da pobre viúva, que enquanto outros faziam as ofertas do que lhes sobejava, ofereceu ela tudo o que tinha para viver, dando assim mais do que todos os outros em conjunto.
Consequentemente, devemos saber identificar e reconhecer a ajuda denominada ‘superficial’, motivada por interesses pessoais. Esta atitude pode ser entrevista inclusive no velho adágio: “Cuida de mim que eu cuidarei de ti”. Neste ato superficial, a ajuda limita-se a uma mera ‘transação’, motivada por interesses pessoais.
Certo filósofo, vendo a sua futilidade, procurou reformular a expressão para algo ligeiramente diferente: “Cuidarei de mim por ti, se cuidares de ti por mim”, formulando que a melhor forma de cuidar e ajudar alguém é cuidando e dignificando primeiro a nossa vida; pois haveria melhor incentivo ou contribuição para o outro do que a minha própria evolução? O que aconteceria a uma relação se um dos envolvidos se tornasse mais sábio, mais ponderado, mais forte, mais inteligente e consciente? Qual o impacto que isso teria em ambos?
Como tal, a caridade tem o seu lugar e respeito na sociedade. A filantropia e a compaixão, as ofertas que não esperam nada em troca têm todas o seu valor. Contudo, quando o seu efeito nas relações humanas é a geração de uma maior dependência, é mister que a sua condição seja revista, pois o objetivo de toda a ajuda ou caridade ao próximo deve ser a sua dignidade, baseada na sua independência e liberdade futura.
|