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Dar e receber
de Maria João Firme
em 30 Set 2024
Ao observar a natureza, facilmente damos conta do sol e da lua, do dia e da noite, do claro e o do escuro. Estas duas polaridades também se manifestam em nós sob muitas formas, como alegria e tristeza, energia e cansaço, luz e sombra etc. Vivemos portanto num mundo de polaridades, dualidade ou opostos, num movimento que busca equilíbrio. No fundo, sob muitas e variadas formas, é este o trabalho que consciente ou inconscientemente iremos fazer, durante o tempo das nossas vidas.
Baloiçar entre dois movimentos : dar e receber
Estas duas polaridades apresentam-se-nos sob várias dimensões - fisicamente, pois podemos estar saudáveis ou doentes, através de sensações como frio ou calor, ou de sentimentos como o prazer e a dor, o amor e o medo. Quanto às energias que nos envolvem, embora muitas vezes não as possamos identificar, não é por acaso que dizemos “aquela reunião estava de cortar à faca!”, explicando de uma forma física aquilo que não pode ser materializado ou, ao contrário, “que clima descontraído estava naquela sala, cheguei a casa inspirada e fiz mil coisas!...”, sem sabermos muito bem porque temos estas reações.
Vivemos a dupla face de uma moeda, para a qual temos que que encontrar o peso, a medida e o tempo certos que permitam calibrá-la, na nossa medida exata. Devemos emprender uma tarefa cuidadosa connosco próprios, mas também para com a família e a sociedade. Na verdade, é necessário ultrapassar um “estádio bipolar” de oscilação, entre a tristeza a alegria, a depressão e a mania, a raiva e o carinho, para encontrarmos a um equilíbrio balanceado. Quantos de nós não reconhecem em si próprios ou observam nos filhos, esposos, chefes ou colegas de trabalho este tipo de comportamento, onde existe uma grande clivagem?...
Este desiquilíbrio é potenciado quando atuamos repetidamente num mesmo sentido, reforçando apenas uma face da moeda. A forma como educámos os nossos filhos, por exemplo, pois habituámos as nossas crianças e jovens apenas a receber coisas: o bife maior, o presente mais caro ou o primeiro gasto do mês, esquecendo-nos que eles serão adultos, no futuro. Criámos reizinhos de fantasia, a quem tudo foi oferecido continuamente, sem que os lembrássemos de atender às necessidades dos outros, iludindo-os num trono sem fim. E, de repente, quando o reinado acaba, eis que uma realidade para a qual estão impreparados se revela fria e cruel.
Mas, como num baloiço, podemos atuar até ascender a um pico mais elevado, seguidamente iniciar a descida que leva ao ponto mais baixo, voltar a subir e atingir o topo mais elevado outra vez, para novamente descer e, quais crianças que brincam, rir com inocência e soltar pequenos gritos de alegria. Neste caso, nossas ações fluem num movimento ritmado, em equilíbrio.
Quem disse que os adultos se devem manter numa polaridade sisuda e triste, capaz apenas de alternar com uma alegria superficial, que dissimula o vazio interior que os preenche?
Cá por mim e pelos meus amigos, já fizemos uma reunião onde concluímos o seguinte: as nossas crianças interiores estão ávidas de brincadeira, desejam baloiçar descontraidamente, cantar e soltar risadas felizes, dar e receber ânimo. Por isso, quanto a nós, projetamos já a vida num alegre balancé... baloiçando entre o dar e o receber.
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