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Marco Histórico - Saberes
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  • Japão - Carta de S. Francisco Xavier em 1549 de Cangoxina, no Japão, relatando ter «conversado frequentemente com bonzos mais instruídos, sobretudo um deles, muito respeitado dos seus irmãos pela sua doutrina, a sua vida, a sua dignidade e também a sua idade; tem 80 anos, chama-se Ninjit, ou seja, em japonês, coração da verdade. É como o abade deles... Ele mostra-se tão meu amigo que é maravilhoso... Temos os dois conversado frequentemente; encontrei-o hesitante quanto ao ponto de saber se a alma e imortal ou se ela morre com o corpo; tanto diz sim, como diz não; assim devem ser todos os seus: letrados». Assim referia Xavier um dos pontos principais das doutrinas do budismo zen, a inexistência do eu e portanto a mortalidade da alma, com a qual ele não podia concordar. O P. Luís Fróis, na "História do Japão", explica que «era aquele mosteiro da seita dos Jenxus (ramo Sôtô), que tem para si não haver mais que nascer e morrer, e que não há outra vida, nem castigo dos males, nem remuneração dos bens, nem autor que governe o universo. Entre outras muitas coisas, que o P. Mestre Francisco passou com este Ninjit, foram duas: a 1ª é que tem por costume aqueles bonzos, dentro dum ano, meditarem - cem dias uma ou duas horas determinadas, a que chamam zazen - sobre, este não haver nada, para melhor extinguirem o remorso da consciência; e na compostura do corpo estavam com tanta modéstia, recolhimento e tranquilidade, como se estivessem arrebatados em uma contemplação divina. Passando uma vez o P. Mestre Francisco com este bonzo velho, superior do mosteiro, por este lugar com um, aonde todos os bonzos estavam fazendo sua meditação, perguntou o padre a Ninjit «Que e que fazem aqui estes religiosos?» Ele sorrindo-se, lhe respondeu: «Uns estão fazendo de conta de quanto têm ganhado com seus fregueses os meses atrás passados; outros, donde poderão adquirir melhores vestidos e tratamentos para suas pessoas; outros em suas recreações e passatempos; e finalmente nenhum, em coisa que seja de algum momento». Eram as primeiras descrições ocidentais do zazen. Em 1560, o P. Luís de Almeida e os discípulos de Ninjit relembrarão saudosamente diálogos dos seus mestres.

    Livro, "Os Descobrimentos do Oriente e do Ocidente".
    Pedro Teixeira da Mota


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